No mês em que José Saramago completaria 100 anos, evocamos, a sua intervenção num plenário de trabalhadores da CUF, no Barreiro, a 29 de Março de 1976.
«separar o trigo do joio»
No uso da palavra, Saramago partilhou com os inúmeros trabalhadores do Grupo CUF que lotavam a Casa da Cultura do Barreiro a sua análise sobre a situação da imprensa em Portugal.
Referindo-se com maior acuidade ao período posterior ao 25 de Novembro de 1975, altura em que fora forçado a abandonar o cargo de director-adjunto do Diário de Notícias, o escritor alertava:
«Tirando dois ou três jornais, os outros estão em maior ou menor grau contra os vossos interesses, contra a vossa luta, contra o vosso futuro e o dos vossos filhos.»
Como forma de contrariar esta realidade, sugere
«[...] a constituição de “grupos de leitura e crítica de jornal”, salientando que é preciso separar o trigo do joio, e isso só é possível através de uma leitura crítica.»
Além do autor, que publicara em Os Apontamentos, no início de 1976, os editoriais que escrevera para o Diário de Notícias, intervieram Mário Castrim, Pitacas Antunes e Júlio Dias [Martins?], num plenário que tinha na ordem de trabalhos a análise da situação política, tendo-se os trabalhadores
«[...] pronunciado pela promulgação imediata da lei do controlo operário, por uma política antimonopolista e antilatifundiária e ao serviço das massas trabalhadoras e ainda por uma Previdência controlada pelos trabalhadores.»
Firme compromisso com a causa dos trabalhadores
Autor de uma obra de que, até então, avultavam Terra do Pecado, Poemas Possíveis, Provavelmente Alegria e O Ano de 1993, da agenda de Saramago constava a participação, a 3 de Maio de 1976, em novo plenário de trabalhadores do mesmo sector. Saramago evidenciava o seu firme compromisso com a causa dos trabalhadores.
Nos acervos documentais da CGTP-IN, apenas encontramos testemunho da sua presença no plenário de 29 de Março, noticiado nas páginas do órgão de comunicação oficial da CGTP-IN, o jornal Alavanca.
A notícia motivou uma reportagem fotográfica que a CGTP-IN conserva e de que aqui partilhamos algumas fotos, da autoria de Armindo Cardoso, fotógrafo então ao serviço da Intersindical.
