Intervenção do secretário-geral na Manifestação Nacional de 10 de Julho

secretário-geralCamaradas, amigas e amigos:
Daqui saudamos os que rejeitam o desmantelamento da contratação colectiva e o prolongamento da redução do valor do trabalho extraordinário, os que dizem não ao roubo dos salários e das pensões, os que lutam contra a delapidação das funções sociais do Estado e a tentativa de destruição dos serviços públicos, os que se opõem ao aumento da TSU para os trabalhadores, do IVA e de outros impostos. Ver PDF

Saudamos ainda os que estiveram e estão com a CGTP-IN ao longo dos últimos anos, nomeadamente nas acções de 19 e 21 de Junho, no Porto e em Lisboa, dando corpo a uma luta que não pára pela defesa da democracia e da soberania, que rejeita as falsas inevitabilidades do empobrecimento e da exploração e que apresenta propostas para uma política alternativa ao fundamentalismo e totalitarismo de direita da política do PSD e CDS!

Uma luta contra um Governo que atenta contra os direitos humanos e uma maioria que já só existe dentro da Assembleia da República dado que há muito deixou de ter uma base social e eleitoral que se esvaziou na razão directa do desenvolvimento e incremento da nossa luta!

Neste momento pode o PSD e o CDS votar mais um pacote que atenta contra o Trabalho, a contratação colectiva e os direitos individuais e colectivos dos trabalhadores, mas a grande verdade é que a maioria já não está lá dentro! A maioria expressa-se através desta Manifestação, dando voz ao povo e ao sentimento generalizado da exigência de uma política de progresso e justiça social!

Por muito que insistam, não vão conseguir destruir a contratação colectiva. Outros, ao longo dos últimos 30 anos, tentaram e não conseguiram. Também agora vos dizemos, com convicção, que a luta das actuais gerações de homens e mulheres, terá a força necessária para travar mais um atentado contra os direitos, liberdades e valores de Abril.

A contratação colectiva, o direito das organizações representativas dos trabalhadores e, por seu intermédio, dos trabalhadores colectivamente organizados negociarem as suas condições de trabalho, não nos caiu do céu! Foi conquistada, a pulso, a partir da acção reivindicativa em cada local de trabalho, nas difíceis condições impostas pelo fascismo, foi desenvolvida e melhorada nos seus conteúdos depois do 25 de Abril e será defendida contra aqueles que hoje, como naqueles dias sombrios, fazem das relações de trabalho um elemento de exploração dos trabalhadores.

A contratação colectiva, pelo núcleo valorativo dos direitos individuais e colectivos que incorpora, pelo contributo que dá para a estabilidade, a segurança e a qualidade do emprego, pela promoção de uma mais justa distribuição da riqueza, pela valorização das profissões e a dignificação das carreiras, é um alicerce da democracia e um factor de desenvolvimento e coesão social.

O que o Governo do PSD-CDS está a fazer é um atentado contra os direitos individuais e colectivos dos trabalhadores, a intervenção dos sindicatos e os princípios defendidos pela OIT para a contratação e a negociação. Por isso mesmo, apresentamos uma queixa à OIT contra o Estado português e lançamos uma linha de esclarecimento junto das confederações sindicais de todos os continentes para apoiar as nossas posições.

Sabemos que a solidariedade internacional é importante, mas o determinante para por um travão nas intenções de Passos e Portas será a acção nos locais de trabalho numa luta que é não só dos trabalhadores do sector privado, público e das empresas dos sector empresarial do Estado, mas também de todos os homens e mulheres que defendem um futuro de desenvolvimento e de harmonização social no progresso construído numa sociedade mais justa e democrática.

Aquilo com que estamos confrontados não são só medidas cirúrgicas ou ataques pontualmente desferidos, mas sim um projecto político que vê na exploração e no empobrecimento, não uma consequência, mas um objectivo para impor a continuação da brutal transferência dos rendimentos de quem trabalha e trabalhou para o grande capital nacional e estrangeiro. É assim com o roubo no SMN e a perpetuação dos 485€; é assim com a redução dos salários e das pensões e o assalto aos trabalhadores da administração pública com a tabela única e o corte nos suplementos; é assim com o aumento dos impostos e a tentativa de perpetuação da “transitória” contribuição extraordinária de solidariedade.

Bem pode o Governo encomendar estudos e relatórios, como o recentemente apresentado pela OCDE, onde campeia a aldrabice e mistificação de que o país está melhor, mas a realidade do dia-a-dia das famílias é a do desemprego e do trabalho precário, da emigração forçada e da instabilidade crescente, das crianças a quem foi retirado ou reduzido o abono de família e dos idosos com pensões abaixo do limiar da pobreza. Sentimos nos bolsos cada vez mais vazios e nos meses cada vez mais longos o efeito da sua política traduzida também em menos e mais caros serviços públicos!

Estamos fartos da cassete gasta da rigidez laboral e que esta é a causa de todos os males. Dizem que com mais desregulação há mais emprego, ocultando que a cada machadada na legislação laboral é o desemprego e a precariedade que crescem e os salários e a protecção social que descem. Esta é a política que promove a concentração da riqueza e das desigualdades e arrasta a capacidade produtiva do país para o definhamento, em linha com a perpetuação do perfil assente numa força de trabalho desvalorizada.

É de retrocesso social e civilizacional que se veste o modelo que PSD e CDS têm para o país. Enchem a boca com a competitividade para reclamar mais cortes nos salários, sabendo que cada cêntimo que nos retiram vai engordar os que vivem dos juros, das rendas e dos lucros. Usam e abusam da mentira e da deturpação para tentar justificar a sua opção.

Dizem que são as necessidades financeiras a causa do roubo aos trabalhadores da administração pública, escondendo que aquilo que desviam num ano para o BPN, os Swap, as PPP e os juros da dívida, é o equivalente a décadas de saque resultante da retirada dos feriados, das sobretaxas e do congelamento dos salários, da negação do direito às carreiras.

Numa atitude que ultrapassa todos os limites do normal funcionamento institucional, solicitam agora a fiscalização preventiva dos diplomas, transformando no seu contrário o argumento que levou à promulgação de três Orçamentos do Estado e várias normas fora da lei. A fiscalização preventiva que ontem era apresentada como um perigo e uma afronta aos mercados e à estabilidade do país, agora serve para pressionar o TC e tentar dar suporte à eternização do roubo dos salários e das pensões!

Tudo isto com a coordenação e cooperação do Presidente da República, numa cruzada contra direitos, liberdades e garantias constitucionais e ao arrepio da Constituição, que jurou cumprir.

É na base de concepções totalitárias, ancoradas numa estratégia e num Tratado Orçamental que são um garrote ao desenvolvimento soberano do país e visam a perpetuação por muitas décadas da asfixia trabalhadores e do povo, que o Governo e o Presidente da República apelam a um consenso.

A CGTP-IN não pactuará com o retrocesso, com a retirada de direitos, com a destruição dos mais elementares instrumentos para o bem-estar e a coesão social e territorial. Os consensos e compromissos a que estamos dispostos passam necessariamente pela ruptura com esta política e a implementação de uma alternativa, de esquerda e soberana, de justiça e igualdade, que responda às reais necessidade dos trabalhadores e do povo português!

Uma alternativa que contemple a nossa proposta para renegociação da dívida, para o incremento da produção nacional, para uma política de rendimentos que promova uma justa repartição da riqueza, com serviços públicos e uma educação, saúde e segurança social para todos!

Uma política alternativa de esquerda e soberana que tenha à frente do país aqueles que colocam os interesses do povo e do país à frente dos credores e da alta finança. Só assim nos veremos livres das negociatas da banca, do comportamento do Banco de Portugal e do Governo, sempre pronto a branquear os que desviam milhões como no caso do BES e sempre disponíveis para enterrar o dinheiro que dizem não existir, nos buracos sem fundo criados pela gestão privada em sectores fundamentais.

Camaradas, amigas e amigos,
Nunca como hoje a unidade foi tão importante.
Unidade de todos os trabalhadores, do sector público e privado;
Unidade dos que têm, e dos que ainda não têm, filiação sindical, dos que têm, e não têm emprego;
Unidade dos mais jovens e dos menos jovens;
Unidade dos que têm vínculos estáveis e dos que se confrontam com a precariedade absoluta;
Unidade para continuar e intensificar a luta, fazendo deste um verão de acção pela transformação.

Luta que não pára, como ficou demonstrado com a greve dos médicos em defesa do SNS do passado dia 8 e 9. Luta que continua, com a greve de amanhã dos trabalhadores da Controlinveste contra o despedimento colectivo, pela democracia na informação, no dia 14 com a Greve na GalVidro da Marinha Grande e na Cofelis, empresa de limpeza da Mabor/Continental, com o Encontro Nacional de Educação, promovido pela FENPROF no dia 16, com a greve dos trabalhadores das centrais dos CTT de Lisboa, Coimbra e Porto, do dia 21 de Julho a 1 de Agosto, com a greve dos enfermeiros do Centro de Saúde da Marinha Grande nos dias 22 e 23 e a luta dos trabalhadores em contrato emprego de inserção, no dia 25 em Lisboa!

Uma luta que vai continuar de forma convergente no dia 25 de Julho, com uma Concentração Nacional de dirigentes, delegados e activistas sindicais, no Jardim de S. Pedro de Alcântara, seguida de desfile para a Assembleia da República, com vista a rejeitar a proposta de lei sobre a reconfiguração dos cortes salariais que, nesse dia, será votada no Parlamento;

Uma luta que se prolongará durante o mês de o mês de Agosto, com uma campanha de esclarecimento e sensibilização junto dos trabalhadores e população para desmontar a ofensiva em curso.

Lutamos hoje, porque foi através da luta que as gerações que nos antecederam conquistaram o direito a uma vida melhor e nos deixaram um legado fortemente ameaçado. Lutamos hoje porque queremos projectar um futuro para os nossos filhos com mais e melhores condições de vida e de trabalho!

VIVA A LUTA DOS TRABALHADORES!
VIVA A CGTP-IN!!!